terça-feira, 23 de junho de 2020

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Ide, ide, sem saber de quê. Há os poetas para raramente morrer disso.

Maria Velho da Costa


quinta-feira, 11 de junho de 2020

Uma vez quiseram-me louca, a arder




Uma vez quiseram-me louca, a arder

e eu ardi com a discrição de
um fogo posto
porque a cura vai na mesma direcção
que a nossa febre

Ateei-me como um relâmpago inesperado
à luz do dia
Eu parecia uma basílica em chamas
de altar por estrear, a arder sozinha

Sempre me recusei a arder como os outros

Ardam-se mais à esquerda ou mais à direita
mais a vento de sul ou de norte,
mas labaredem-se, sejam fogos que ardem!

Porque pior que a desdita loucura
é toda a gente andar em brasa
mas ninguém chegar a incêndio

E no fim são todos cinza


Cláudia R. Sampaio


terça-feira, 2 de junho de 2020

Pensei

Pensei
que a liberdade vinha com a idade
depois pensei
que a liberdade vinha com o tempo
depois pensei
que a liberdade vinha com o dinheiro
depois pensei
que a liberdade vinha com o poder
depois percebi
que a liberdade não vem
não é coisa que lhe aconteça
terei sempre de ir eu.

Sónia Balacó

a minha avó repete:

a minha avó repete: o tempo cura a ferida mas não cura a cicatriz e nenhum outro poema de nenhum outro poeta me falou tão alto ao ouvido Inê...