Alejandra Pizarnik
O OLHAR SOBRE A PEDRA
Poemas da minha vida (et alli)
segunda-feira, 10 de novembro de 2025
Los relojes
Los relojes se suicidan en mi cuarto cada vez que dejo de nombrarte. Ellos saben que el tiempo sin tu voz es una llaga interminable. Y sin embargo sigo oyendo el tic tac como si mi corazón quisiera recordar la exactitud de tu ausencia.
Alejandra Pizarnik
Alejandra Pizarnik
Sé todos los cuentos
Digo tan sólo lo que he visto.
Y he visto:
que la cuna del hombre la mecen con cuentos,
que los gritos de angustia del hombre los ahogan con cuentos,
que el llanto del hombre lo taponan con cuentos,
que los huesos del hombre los entierran con cuentos,
y que el miedo del hombre…
ha inventado todos los cuentos.
Yo no sé muchas cosas, es verdad,
pero me han dormido con todos los cuentos…
y sé todos los cuentos.
Y he visto:
que la cuna del hombre la mecen con cuentos,
que los gritos de angustia del hombre los ahogan con cuentos,
que el llanto del hombre lo taponan con cuentos,
que los huesos del hombre los entierran con cuentos,
y que el miedo del hombre…
ha inventado todos los cuentos.
Yo no sé muchas cosas, es verdad,
pero me han dormido con todos los cuentos…
y sé todos los cuentos.
León Felipe
Neologismo
Mas invento palavras
Que traduzem a ternura mais funda
E mais cotidiana.
Inventei, por exemplo, o verbo teadorar.
Intransitivo:
Teadoro, Teodora.
Manuel Bandeira
Que traduzem a ternura mais funda
E mais cotidiana.
Inventei, por exemplo, o verbo teadorar.
Intransitivo:
Teadoro, Teodora.
Manuel Bandeira
O fueron nueve
no sé
no las conté
cómo hubiera podido.
Tal vez no más que seis
o fueron nueve.
No sé
pero valieron
como el más largo amor.
Tal vez
de cuatro o cinco noches como esas
pero precisamente como esas
tal vez
pueda vivirse
como de un largo amor
toda una vida.
Idea Vilariño
terça-feira, 28 de outubro de 2025
write wrote written
comprei agora um livro
“creative writing”
nunca pensei
que um dia fosse comprar uma coisa destas
a primeira frase já não é nada divertida:
“… do the best we can with what is available…”
a mulher da livraria & o seu cachorro ruivo
diz ela
estar à beira da loucura
porque lhe faltam estantes
para tantas caixas de livros
só presto meia atenção
porque a toda a hora alguém me diz
que está à beira da loucura
mas no fim todos acabam
a fazer o seu trabalho
& todas as mudanças drásticas
se perdem
& se transformam em pão de forma
Lütfiye Güzel
“creative writing”
nunca pensei
que um dia fosse comprar uma coisa destas
a primeira frase já não é nada divertida:
“… do the best we can with what is available…”
a mulher da livraria & o seu cachorro ruivo
diz ela
estar à beira da loucura
porque lhe faltam estantes
para tantas caixas de livros
só presto meia atenção
porque a toda a hora alguém me diz
que está à beira da loucura
mas no fim todos acabam
a fazer o seu trabalho
& todas as mudanças drásticas
se perdem
& se transformam em pão de forma
Lütfiye Güzel
I am much too alone in this world, yet not alone
I am much too alone in this world, yet not alone
enough
to truly consecrate the hour.
I am much too small in this world, yet not small
enough
to be to you just object and thing,
dark and smart.
I want my free will and want it accompanying
the path which leads to action;
and want during times that beg questions,
where something is up,
to be among those in the know,
or else be alone.
I want to mirror your image to its fullest perfection,
never be blind or too old
to uphold your weighty wavering reflection.
I want to unfold.
Nowhere I wish to stay crooked, bent;
for there I would be dishonest, untrue.
I want my conscience to be
true before you;
want to describe myself like a picture I observed
for a long time, one close up,
like a new word I learned and embraced,
like the everday jug,
like my mother’s face,
like a ship that carried me along
through the deadliest storm.
to truly consecrate the hour.
I am much too small in this world, yet not small
enough
to be to you just object and thing,
dark and smart.
I want my free will and want it accompanying
the path which leads to action;
and want during times that beg questions,
where something is up,
to be among those in the know,
or else be alone.
I want to mirror your image to its fullest perfection,
never be blind or too old
to uphold your weighty wavering reflection.
I want to unfold.
Nowhere I wish to stay crooked, bent;
for there I would be dishonest, untrue.
I want my conscience to be
true before you;
want to describe myself like a picture I observed
for a long time, one close up,
like a new word I learned and embraced,
like the everday jug,
like my mother’s face,
like a ship that carried me along
through the deadliest storm.
Rainer Maria Rilke
domingo, 26 de outubro de 2025
Com unhas e dentes
é abrir uma gaveta
na cozinha,
tirar uma faca de cabo preto,
descascar uma laranja.
Viver é outra coisa:
deixas a gaveta fechada
e arrancas tudo
com unhas e dentes,
o sabor amargo da casca,
de tão doce,
não o esqueces.
Luis Filipe Parrado
O poema pouco original do medo
pernas
ambulâncias
e o luxo blindado
de alguns automóveis
Vai ter olhos onde ninguém os veja
mãozinhas cautelosas
enredos quase inocentes
ouvidos não só nas paredes
mas também no chão
no tecto
no murmúrio dos esgotos
e talvez até (cautela!)
ouvidos nos teus ouvidos
O medo vai ter tudo
fantasmas na ópera
sessões contínuas de espiritismo
milagres
cortejos
frases corajosas
meninas exemplares
seguras casas de penhor
maliciosas casas de passe
conferências várias
congressos muitos
óptimos empregos
poemas originais
e poemas como este
projectos altamente porcos
heróis
(o medo vai ter heróis!)
costureiras reais e irreais
operários
(assim assim)
escriturários
(muitos)
intelectuais
(o que se sabe)
a tua voz talvez
talvez a minha
com certeza a deles
Vai ter capitais
países
suspeitas como toda a gente
muitíssimos amigos
beijos
namorados esverdeados
amantes silenciosos
ardentes
e angustiados
Ah o medo vai ter tudo
tudo
(Penso no que o medo vai ter
e tenho medo
que é justamente
o que o medo quer)
*
O medo vai ter tudo
quase tudo
e cada um por seu caminho
havemos todos de chegar
quase todos
a ratos
Sim
a ratos
Alexandre O’Neill
mãozinhas cautelosas
enredos quase inocentes
ouvidos não só nas paredes
mas também no chão
no tecto
no murmúrio dos esgotos
e talvez até (cautela!)
ouvidos nos teus ouvidos
O medo vai ter tudo
fantasmas na ópera
sessões contínuas de espiritismo
milagres
cortejos
frases corajosas
meninas exemplares
seguras casas de penhor
maliciosas casas de passe
conferências várias
congressos muitos
óptimos empregos
poemas originais
e poemas como este
projectos altamente porcos
heróis
(o medo vai ter heróis!)
costureiras reais e irreais
operários
(assim assim)
escriturários
(muitos)
intelectuais
(o que se sabe)
a tua voz talvez
talvez a minha
com certeza a deles
Vai ter capitais
países
suspeitas como toda a gente
muitíssimos amigos
beijos
namorados esverdeados
amantes silenciosos
ardentes
e angustiados
Ah o medo vai ter tudo
tudo
(Penso no que o medo vai ter
e tenho medo
que é justamente
o que o medo quer)
*
O medo vai ter tudo
quase tudo
e cada um por seu caminho
havemos todos de chegar
quase todos
a ratos
Sim
a ratos
Alexandre O’Neill
Na casa antiga, cada um de nós levava
consigo um candeeiro, com que arrastava
o seu duplo de penumbra e de sombra.
A chama do petróleo ardia junto à boca,
podíamos devorar a própria luz.
Chamas nos queimavam as entranhas
e em archotes vivos nos tornaram,
vagueando por corredores e por escadas
atrás do Outro, que nada nos dizia.
Fiama Hasse Pais Brandão
Cajuína
Pois quando tu me deste a rosa pequenina
Vi que és um homem lindo e que se acaso a sina
Do menino infeliz não se nos ilumina
tampouco turva-se a lágrima nordestina
Apenas a matéria vida era tão fina
E éramos olharmo-nos intacta retina
A cajuína cristalina em Teresina
Apenas a matéria vida era tão fina
E éramos olharmo-nos intacta retina
A cajuína cristalina em Teresina
Caetano Veloso
domingo, 19 de outubro de 2025
à parte do reino
as mulheres são todas iguais
todas, sem exceção. as de ontem, iguais às de hoje, as de hoje, iguaisàs de amanhã
que não se engane o meu amor, porque em breve
a ex dele voltará através de mim, para dizer pela minha boca o que não pôde dizer pela sua
eu farei o mesmo, pela boca da próxima
e assim sucessivamente
é uma maldição
entramos na vida de um homem como se fôssemos cada uma
uma só
com o passar do tempo nos tornamos todas iguais
juramos sempre o mesmo amor no começo
rogamos sempre as mesmas pragas antes de bater a porta, no final
sempre a mesma garganta
a mesma língua de gárgula
.
as mulheres são todas iguais
por isso quando caminho pelo bairro me olho nos olhos que me olham
sou a moça parada à janela, translúcida
sou a que atravessa o dia pensando em rosas
do povo
de hiroshima
de gertrude stein
de ninguém
estou na rua, mas estou em casa
estou em mim mesma como no meio de uma catedral vazia,
o sino sendo tangido pelo silêncio
.
.
o meu amor não sabe
se disser o nome de uma mulher, dirá o nome de todas
somos em certo sentido indeléveis como ar. somos todas marias
linhas de sombra e luz, fina fenda
somos um pássaro
e há um mundo inteiro suspenso nos fios de nossa respiração
.
li esses dias que os ciclos de sangue de mulheres que moram juntas tornam-se sincrônicos. vou mais
longe, digo que também passamos a nos encontrar
em sonho. nessas horas, até chamamos umas às outras pelo nome
(em voz baixa, para que não se rompa
o fio de prata)
.
em sonho. nessas horas, até chamamos umas às outras pelo nome
(em voz baixa, para que não se rompa
o fio de prata)
.
as mulheres são todas iguais, basta olhar com atenção
veja, por exemplo:
pouco depois de se separar de ted, sylvia se suicidou usando gás de cozinha
mais tarde, assia, a nova esposa, repetiu o ato
a mesma cena
o mesmo gás
o mesmo homem
as mulheres são todas iguais
.
pelas mãos de salomé, também eu servi a cabeça de joão batista numa bandeja
pelas mãos de lucrécia bórgia, também eu misturei cantarella no vinho
e terminei o dia envenenando um marido
.
esta noite o meu amor se deitará com sua nova namorada. nela estaremos todas
repetíveis, labirínticas
espelhos
espectros umas das outras
de madrugada, ele será seduzido com beijos e cheiros. quando descobrir que é a mesma mulher de sempre
o mesmo antigo demônio fêmeo
nessa hora será tarde. já a terá fecundado
já terá continuado nossa linhagem má
numa filha
Mar Becker
sábado, 11 de outubro de 2025
Luís Cunha
Ao Luís, no primeiro aniversário do seu voo.
30 anos de amizade, and counting.
Grata, grata.
Direi então:
Um amigo
é o lugar da terra
onde as maçãs brancas são mais doces.
Eugénio de Andrade
30 anos de amizade, and counting.
Grata, grata.
Direi então:
Um amigo
é o lugar da terra
onde as maçãs brancas são mais doces.
Eugénio de Andrade
O futuro
E sei muito bem que não estarás.
Não estarás na rua, no sussurro que brota de noite
dos postes, nem no gesto
de escolher o cardápio, nem no sorriso
que alivia as lotações do metropolitano,
nem nos livros emprestados nem no até amanhã.
Não estarás nos meus sonhos,
no destino original das minhas palavras,
nem num número de telefone estarás,
ou na cor de um par de luvas ou de uma blusa.
Irritar-me-ei, meu amor, sem que seja por ti,
e comprarei bombons, mas não para ti,
esperarei na esquina a que não virás,
e direi as palavras que se dizem
e comerei as coisas que se comem
e sonharei as coisas que se sonham
e sei muito bem que não estarás,
nem aqui dentro, a prisão onde ainda te prendo,
nem lá fora, este rio de ruas e de pontes.
Não estarás para nada, não serás nem lembrança,
e, quando pensar em ti, pensarei um pensamento
que vagamente trata de lembrar-se de ti.
Não estarás na rua, no sussurro que brota de noite
dos postes, nem no gesto
de escolher o cardápio, nem no sorriso
que alivia as lotações do metropolitano,
nem nos livros emprestados nem no até amanhã.
Não estarás nos meus sonhos,
no destino original das minhas palavras,
nem num número de telefone estarás,
ou na cor de um par de luvas ou de uma blusa.
Irritar-me-ei, meu amor, sem que seja por ti,
e comprarei bombons, mas não para ti,
esperarei na esquina a que não virás,
e direi as palavras que se dizem
e comerei as coisas que se comem
e sonharei as coisas que se sonham
e sei muito bem que não estarás,
nem aqui dentro, a prisão onde ainda te prendo,
nem lá fora, este rio de ruas e de pontes.
Não estarás para nada, não serás nem lembrança,
e, quando pensar em ti, pensarei um pensamento
que vagamente trata de lembrar-se de ti.
Julio Cortázar
Procuro-me e não me encontro
Procuro-me e não me encontro,
encontro-me e dissolvo-me,
sou eco de uma sombra
encontro-me e dissolvo-me,
sou eco de uma sombra
que nunca teve luz.
As horas rasgam-me,
os dias perseguem-me,
sou náufrago na minha carne,
sou convidado do meu fim.
Pergunto aos espelhos,
olham para mim e quebraram.
Pergunto aos silêncios
e nada sabem sobre mim.
Se sou lembrança,
se sou cinzas,
alguém me diga ao menos
se alguma vez vivi.
José Asunción Silva
As horas rasgam-me,
os dias perseguem-me,
sou náufrago na minha carne,
sou convidado do meu fim.
Pergunto aos espelhos,
olham para mim e quebraram.
Pergunto aos silêncios
e nada sabem sobre mim.
Se sou lembrança,
se sou cinzas,
alguém me diga ao menos
se alguma vez vivi.
José Asunción Silva
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