quinta-feira, 12 de dezembro de 2019

Ó meu amor

Ó meu amor, o nosso amor é impossível.
A madrugada propaga-se e queima.
A alma, amarga, doente, é legível,
Carregada de ternura.
Que o sonho madrugue a amena
Noite de Lisboa, dom e idade de ruídos.
Mil corpos sonâmbulos deambulam sóis…
Oh ternura de guitarras, gemendo tristeza e sorrisos,
Quando as ruas da cidade cintilam de faróis.
Oh timbre de voz de fadista, cantando um velho fado,
Ilumina-te, despe-te e despede-te das sombras…
O fado antiquíssimo é veloz diurno alado,
Quando, sobre o fadista, só a amante tomba,
E o exílio principia à beira de Lisboa, após a primavera exacta,
Até que a maresia do dia consinta na ternura intacta.

António Botto


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