quinta-feira, 19 de janeiro de 2023

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Foi longa e fastidienta a viagem, mas chegámos a tempo de ouvir ainda, no coração quente do outono, as cigarras a cantar no cimo das oliveiras e ver na encosta dos montes os asfódelos em flor. Estávamos na Grécia, não havia dúvida. Apesar de o turismo ter transformado a mais sagrada das terras numa feira perpétua e reles, uma ou outra coisa resistia à peste: os cardos de Epidauro, as cigarras da Arcádia, os asfódelos de Egina. Algumas coisas mais: a luz sem peso das colunas, o azul espesso do golfo de Corinto. Ε Akrator, o pastor de Meteora. Entre os rochedos a prumo, assobiava às cabras, guiando-as com olhar sábio para os tufos de ervas que iam, sabe-se lá como, rompendo da rocha.

Eugénio de Andrade


1 comentário:

  1. Sim, eu sei que essa é uma outra viagem. E ainda assim continuo a apreciar poesia e Eugénio de Andrade. E já é bastante, o resto são árvores alheias.
    P.

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