terça-feira, 27 de agosto de 2024

Força estranha

https://youtube.com/watch?v=jBnedtBKUso

Eu vi um menino correndo, eu vi o tempo
Brincando ao redor do caminho daquele menino
Eu pus os meus pés no riacho
E acho que nunca os tirei
O Sol ainda brilha na estrada e eu nunca passei

Eu vi a mulher preparando outra pessoa
O tempo parou pra eu olhar para aquela barriga
A vida é amiga da arte
É a parte que o Sol me ensinou
O Sol que atravessa essa estrada que nunca passou

Eu vi muitos cabelos brancos na fronte do artista
O tempo não para e, no entanto, ele nunca envelhece
Aquele que conhece o jogo
Do fogo das coisas que são
É o Sol, é a estrada, é o tempo, é o pé e é o chão

Eu vi muitos homens brigando, ouvi seus gritos
Estive no fundo de cada vontade encoberta
E a coisa mais certa de todas as coisas
Não vale um caminho sob o Sol
E o Sol sobre a estrada é o Sol sobre a estrada
É o Sol

Por isso uma força me leva a cantar
Por isso essa força estranha
Por isso é que eu canto, não posso parar
Por isso essa voz tamanha

Caetano Veloso


[...]

Vendo bem, é tudo vão
e perdoa se te digo

que eu só te fiz um favor
ao escolher a solidão
que já trazias contigo.

Rui Pires Cabral


Mote

Passado, o que fazes tu aqui?
E como sabias onde eu estava?

Vítor Nogueira


Ode a Guillaume Apollinaire

No meio dos anjos desembarcados em Marselha
nas margens do Sena, ao ouvido de Marie,
os olhos ardidos de ternura,
leio os teus versos, sem piedade de ti.
 
Leio os teus versos neste outono breve
onde passeiam lentos com água
Lou e Ottomar;
a esperança é ainda violenta,
mas estamos tão cansados de esperar.
 
Leio os teus versos no cemitério
onde as crianças indiferentes
brincam à roda da tua sepultura;
e choro, ao lado de Madeleine,
órfão de ti, órfão de aventura.
 
E tu passas, artilheiro ,
apaixonadamente como um rio
ou touro de amor até aos cornos:
Orfeu cheirando a pólvora e a cio.
 
Passas, e seguem-te saltimbancos,
galdérias, vadios, ciganos e anões;
Annie - ou Jeanne - surge da bruma,
e de longe atira-te uma rosa,
talvez de lume, talvez de espuma.
 
Passas, e entras no paraíso
no meio dos adolescentes tresmalhados;
Martin, Gertrude, Hans e Henri,
com ervas ainda nos cabelos,
cantam coplas de putas e soldados.

Oh Madeleine, não tenhas piedade:
ou mortos somos nós, aqui sentados,
Com a noite nos ombros e embalando
a angústia nos braços decepados.

Eugénio de Andrade


Na luta de classes

Na luta de classes
todas as armas
são boas:
pedras, noite e poemas.

Paulo Leminski


Invictus

Out of the night that covers me, Black as the pit from pole to pole, I thank whatever gods may be For my unconquerable soul. In ...