quinta-feira, 7 de novembro de 2019

Não sei

Não sei porque diabo escolheste
janeiro para morrer: a terra
está tão fria.

É muito tarde para as lentas
narrativas do coração,
o vento continua
a tarefa das folhas:
cobre o chão de esquecimento.

Eu sei: tu querias durar.
Pelo menos durar tanto como o tronco
da oliveira que teu avô
tinha no quintal. Paciência,
querido, também Mozart morreu.

Só a morte é imortal.

Eugénio de Andrade

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