sexta-feira, 20 de novembro de 2020

Convida-me só para jantar

Convida-me só para jantar

E não queiras depois fazer amor.
Convida-me só para jantar
num restaurante sossegado
numa mesa de canto
e fala devagar
e fala devagar
eu quero comer uma sopa quente
não quero comer mariscos
os mariscos atravancam-me o prato
e estou cansada para os afastar
fala assim devagar
devagar
não é preciso dizeres que sou bonita
mas não me fales de economia e de política
fala assim devagar
devagar
deita-me o vinho devagar
quando o meu copo estiver vazio.
Estou convalescente
sou convalescente
não é preciso que o percebas
mas por favor não faças força em mim.
Fala, estás-me a dar de jantar
estás-me a pôr recostada à almofada
estás-me a fazer sorrir ao longe
fala assim devagar
devagar
devagar.

Ana Goês


1 comentário:

  1. Se calhar nem quero fazer amor. Ou quero, mas é de somenos. Se calhar estou convalescente há muito tempo. Se calhar sou do contra quando sinto que esperam de mim, como se tudo o que é vivido dependesse de um misterioso gesto mágico dramático que pudesse transformar a belíssima poeira dos dias em quê? O que mais há de maior? Ou se calhar sou simplesmente espelho e também gosto de ovos. Eu sou o frango, e dão-me ovos. Cada um dá o que tem. E no fim não terei aprendido nada sobre mim que não soubesse já. Repetir a mesma ação, porque o meu corpo não obedece a outra vontade diferente, por mais força que eu faça para o manobrar. Os ovos são maravilhosos.
    P.

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