quinta-feira, 12 de agosto de 2021

Arriesgaré la piel


Mi corazón es un caballo alado
Me decisión es una espada amarga
Yo volveré a buscar lo más amado
Pese a la incertidumbre que me embarga.



terça-feira, 10 de agosto de 2021

Nesta vida — é um facto — estamos sempre

Nesta vida — é um facto — estamos sempre
a desaprender coisas novas. O mundo
vai guardando a luz nas suas bainhas negras
e temos a melindrosa companhia dos fantasmas
que nos procuraram: eles governam rudemente
os nossos pequenos reinos e há um ceptro novo

para cada coroação. De repente, com a volta
das estações, damos por nós muito mais velhos
nas fotografias. As razões que nos assistiam
empalidecem em paisagens cruelmente coagidas
pela luz. Fomos expulsos dos grandes palácios

da alegria? Onde estão os mapas que nos guiavam
lá dentro, exactos como o instinto? Não sabemos
responder: o caminho turva-se: são as incertezas
da maturidade. As palavras não nos iluminam
e o amor está condenado aos defeitos naturais
do coração, que ainda assim há-de voltar a arder
sem defesa nem socorro uma vez mais.

Rui Pires Cabral

segunda-feira, 9 de agosto de 2021

Se cada dia cai


Se cada dia cai,
dentro de cada noite,
há um poço
onde a claridade está presa.

Há que sentar-se na beira
do poço da sombra
e pescar luz caída
com paciência.

Pablo Neruda


terça-feira, 3 de agosto de 2021

Ela falava só para mim


71. Ela falava só para mim. Anos e anos. Depois, ficou em silêncio. Hoje, comunica com a linguagem das pedras brilhantes. E fala com o futuro. Como se ainda esperasse um filho no ventre despedaçado pela guerra dos cleptocratas.

72. Há abismos invisíveis em caminhos distraídos. Quando damos por nós, estamos numa dimensão paralela. Não sei nada de quântica. Mas sei o que está no outro lado do que me é impossível.

73. Irreversível e desastroso. E agora tudo o que já fez parte de mim pertence ao Grande Livro do Mistério Inacessível.

74. As arrecadações são abismos de memórias. Antiguidades negociáveis e sem qualquer outro valor. Cumulação de dívidas com o passado. E ainda que não fossem, são hoje brinquedos sórdidos.

75. Objectos que criam mitos. E lá estavam escondidos os aerogramas de um soldado numa guerra que me tinham destinado enquanto brincava com espingardas de pau. Inocente como todos os outros inocentes manipulados pelos carcereiros de uma juventude proibida. Adolescente, com olhos raiados de sangue, disse que não queria matar. E na prisão fui preso. E resisti até ao tutano da lucidez.

76. Chamavam-lhe visco. Era um produto para apanhar pássaros. Uma cola assassina. Soltei pássaros. Centenas de pássaros. Condenaram-me. Mudei de bairro. E descobri a metáfora da viagem.

Luís Filipe Sarmento


 


A poesia, em meu entender


A poesia, em meu entender, não é propriamente coisa para ser subserviente desses doutores universitários que esgalham uns versos perfeitinhos, muito bem elaborados, como eles dizem. Cheios de técnica, cheios de secura também. [...]
Freelancers das semióticas... Palermóides, que não sabem nada sobre o cheiro acre da vida! O Senhor lhes perdoe, a todos! Que não sabem o que é uma lâmina circulando no coração! Ámen.

Al Berto


Remedia Amoris

Foi uma péssima ideia a de voltarmos a ver-nos. Não fizemos mais do que trocar insultos e culpar-nos de velhas e sórdidas histórias. Depois ...