quarta-feira, 27 de março de 2024

Yo vengo a ofrecer mi corazón


¿Quién dijo que todo está perdido?
Yo vengo a ofrecer mi corazón
Tanta sangre que se llevó el río
Yo vengo a ofrecer mi corazón

No será tan fácil, ya sé que pasa
No será tan simple como pensaba
Como abrir el pecho y sacar el alma
Una cuchillada del amor

Luna de los pobres siempre abierta
Yo vengo a ofrecer mi corazón
Como un documento inalterable
Yo vengo a ofrecer mi corazón

Y uniré las puntas de un mismo lazo
Y me iré tranquilo, me iré despacio
Y te daré todo y me darás algo
Algo que me alivie un poco más

Cuando no haya nadie cerca o lejos
Yo vengo a ofrecer mi corazón
Cuando los satélites no alcancen
Yo vengo a ofrecer mi corazón

Y hablo de países y de esperanzas
Hablo por la vida, hablo por la nada
Hablo de cambiar esta, nuestra casa
De cambiarla, por cambiar nomás

¿Quién dijo que todo está perdido?
Yo vengo a ofrecer mi corazón

Rodolfo Paez


segunda-feira, 25 de março de 2024

Havia uma palavra

Havia
uma palavra
no escuro. 
Minúscula. Ignorada. 
Martelava no escuro. 
Martelava no chão da água. 
Do fundo do tempo, 
martelava,
contra o muro. 
Uma palavra. 
No escuro. 
Que me chamava.

Eugénio de Andrade


Ainda te falta dizer isto

Ainda te falta
dizer isto: que nem tudo
o que veio
chegou por acaso. Que há
flores que de ti
dependem, que foste
tu que deixaste
algumas lâmpadas
acesas. Que há
na brancura
do papel alguns
sinais de tinta
indecifráveis. E
que esse
é apenas
um dos capítulos do livro
em que tudo
se lê e nada
está escrito.

Albano Martins


terça-feira, 19 de março de 2024

Nuno Júdice (1949-2024)

Um poema de amor

Não sei onde estás, se falas
ou se apenas olhas o horizonte,
que pode ser apenas o de uma
parede de quarto. Mas sei que
uma sombra se demora contigo,
quando me pergunto onde estás:
uma inquietação que atravessa
o espaço entre mim e ti, e
te rouba as certezas de hoje,
como a mim me dá este poema.

Nuno Júdice


quinta-feira, 14 de março de 2024

Emigrantes da quarta dimensão


Dá-me uma ajuda, ó médico das almas
Para escolher em que combate combater
Quem condeno eu à vida, quem condeno eu à morte
Que me podes tu dizer...?

Encostado à árvore do tempo
Folhas vivas, folhas mortas, estações
Nada disto faz sentido
E o sentido do sentido não paga as refeições

Este torpor só tem uma solução
Sejamos deuses, é meter as mãos à obra
E, no fazendo, acontecendo
Deixar ir o coração, que é o que nos sobra

Ao fazer-se o mundo nasce de si próprio
Ser avô é uma alegria atravessada
Dá para rir e para chorar, não temos nada com isso
Mas nada não é nada

Disseste um dia que tudo vale a pena
Tornar as almas mais pequenas é que não
Vamos sobre duas patas, juntar as partes da antena
Espalhadas pelo chão

Fecha a porta, que vem frio lá de fora
Diz o coxo ao despernado, 
E eu aqui

Fui à procura de mim
Encontrei-me mesmo agora
E ainda não fugi

O tempo corre por entre pívias e manhas
E tudo fica cada vez mais como está
Mas, ao correr desta pena, não fico à espera que venhas
Eu já sou o que virá
Eu já sou o que virá

José Mário Branco


sábado, 9 de março de 2024



Pelo sonho é que vamos

Pelo sonho é que vamos,

comovidos e mudos.

Chegamos? Não chegamos?
Haja ou não haja frutos,
pelo sonho é que vamos.

Basta a fé no que temos.
Basta a esperança naquilo
que talvez não teremos.
Basta que a alma demos,
com a mesma alegria,

ao que desconhecemos
e ao que é do dia a dia.

Chegamos? Não chegamos?

– Partimos. Vamos. Somos.

Sebastião da Gama


quinta-feira, 7 de março de 2024

Um lugar

Um lugar onde nos reconhecêssemos
como se chegássemos tarde
a um país estrangeiro
e não precisássemos de perguntar
onde se acendem as luzes
ou se vendem os cigarros
e a cerveja.

José Carlos Barros


Não inventes


Não venhas cá com merdas. Não inventes.
Não olhes nos meus olhos. Sai apenas.
E poupa-me aos discursos eloquentes
e às farsas do adeus. Não faças cenas.

Não digas que lamentas ou que a vida
às vezes é assim: que tudo esquece;
que o mundo e o tempo curam qualquer ferida.
Repito, meu amor: desaparece.

E leva o que quiseres de tudo quanto
um dia suspeitámos partilhar:
os livros, as esculturas em pau-santo,
os discos, os retratos, o bilhar.

Não deixes endereços. Por favor:
eu quero é que te fodas, meu amor.

José Carlos Barros


Gente que não se deixa ficar calada

A palavra nítida, precisa, sem ambiguidade, aquela que se afigura capaz de abrir novas possibilidades para, como os do Bloco dizem, com apreciável clareza, construir uma vida boa.

Remedia Amoris

Foi uma péssima ideia a de voltarmos a ver-nos. Não fizemos mais do que trocar insultos e culpar-nos de velhas e sórdidas histórias. Depois ...