quinta-feira, 25 de abril de 2024

Margem de certa maneira


Dentro da margem de dentro
Na raiz e no lamento
Guarda-vento e ribanceira
Margem de certa maneira
De fazer uma viagem
De ultrapassar a barreira
Fazer do vento poeira
Da ribanceira barragem

Fora da margem de dentro
Entre o caule e o rebento
Há sempre um pequeno espaço
Entre movimento e passo
Entre passo e movimento
A corda que faz o laço
A força que faz o braço
Acordar o pensamento

Escorrego na lama do meu passado
Do meu passado presente
Mas não fico na lama, desnorteado
Vou ao fundo da lama, do outro lado
Do outro lado da mente
Do outro lado da gente
Do lado da gente do outro lado
Do lado da gente que vive de frente
Da gente que vive o futuro-presente

Fora da margem de fora
Fica a sombra e a demora
A voz do vento é mudança
Muda o escudo fica a lança
Sem medida para agora
Saltam pulgas na balança
Para o vento, vira a dança
No espaço de uma hora

Dentro da margem de fora
Não há sombra na demora
Estatelada na história
Fica a margem divisória
E no meio da viagem
A voz do vento é memória
De acreditar na vitória
De rebentar a barragem

Escorregas na lama do teu passado
Do teu passado presente
Mas não ficas na lama, desnorteado
Vais ao fundo da lama, do outro lado
Do outro lado da mente
Do outro lado da gente
Do lado da gente do outro lado
Do lado da gente que vive de frente
Da gente que vive o futuro-presente

José Mário Branco


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