correm atrás deles, querem convencê-los
de que são galinhas, e cobrem as cabeças
com cristas para se disfarçarem de galos. Os bárbaros são
analfabetos mas escrevem cartas às namoradas, e quando elas
respondem fingem que sabem ler e inventam frases
de amor em que só eles acreditam. Os bárbaros não
precisam de fazer a barba nem de usar gravata, mas
às vezes sentam-se como se fossem educados, pedem
uma água mineral e abrem o jornal só para fingir
que sabem ler, e são intransigentes com as moscas
que lhes pousam no nariz e que matam à palmada. Para
trocar as voltas aos bárbaros, nada melhor do que
ameaçá-los com a faca com que se corta o pescoço às galinhas,
e dizer-lhes que a canja está na panela, e se a quiserem
o mundo será canja para eles. Mas depois de comer
a canja os bárbaros vão ao espelho, cortam a barba
com a faca de matar galinhas, põem gravata e dão
vivas como se não fossem bárbaros, soubessem
ler e não vivessem no quintal dos patos que eles,
armados em galos, querem transformar em galinhas
para as comerem, uma a uma, no meio dos pintainhos.
Nuno Júdice
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