segunda-feira, 29 de março de 2021

Estou sempre à espera do inesperado

Estou sempre à espera do inesperado. Assim, a dor não dói.

Mesmo quando dou a mão a alguém e esse alguém a morde.
Faço tudo para ser melhor que eu, ter uma vida intensa mesmo a dormir, 
separar o bom do bom e, com a parte que escolho, fazer melhor. 
Tudo é interessante, mesmo o que não
é interessante, e o interessante está nessa descoberta.
Esta coisa de ser mortal, de ser falível, é a minha afirmação e a minha doença. 
O que resta são paliativos e a sua busca.
Não sei mudar-me, não me quero mudar. Entre proscritos e idiotas, um proscrito. 
Odeio a subtileza dos idiotas.
Falo sempre para mim quando falo com os outros. E dos outros não falo.
Faço de conta. Para comermos todos juntos.
Como iguais.

Joaquim Pessoa


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