segunda-feira, 5 de julho de 2021

De que me serviu


De que me serviu ir correr mundo,

arrastar, de cidade em cidade, um amor

que pesava mais do que mil malas; mostrar

a mil homens o teu nome escrito em mil

alfabetos e uma estampa do teu rosto

que eu julgava feliz? De que me serviu


recusar esses mil homens, e os outros mil

que fizeram de tudo para parar-me, mil

vezes me penteando as pregas do vestido

cansado de viagens, ou dizendo o seu nome

tão bonito em mil línguas que eu nunca

entenderia? Porque era apenas atrás de ti


que eu corria o mundo, era com a tua voz

nos meus ouvidos que eu arrastava o fardo

do amor de cidade em cidade, o teu nome

nos meus lábios de cidade em cidade, o teu

rosto nos meus olhos durante toda a viagem,


mas tu partias sempre na véspera de eu chegar.



Maria do Rosário Pedreira



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