terça-feira, 12 de julho de 2022

Como conversámos aquela noite

Era o quarto de azulejo. O cheiro do tabaco.
O cão
os olhos para que visse o de fora.
Cego
conhecendo a terra sem se conhecer.
Em nós
fizemos sair a lua o sol.
Em todos
o visível o invisível.

Éramos nós e estávamos no fim do mundo.

Como conversámos aquela noite. Era o quarto de azulejo
a mesa de braseira o cheiro do tabaco.
Andara sem destino durante meses
e, aquela noite surgia com o simples virar a
página de um livro,
quando uma palavra torna claro o enredo de longos capítulos.
Assim duas vidas se revelam.

Éramos nós. Estávamos no fim do mundo, quero dizer,
encontrei-me de súbito na minha vida,
na sua vida.

João Miguel Fernandes Jorge

Sem comentários:

Enviar um comentário

O amigo

Não voltará – o que dele me ficou é como no inverno entre cortinas de chuva um tímido fio de sol: ilumina mas não aquece as mãos. Eugénio de...