domingo, 30 de setembro de 2018

A escrita é a minha primeira morada de silêncio



A escrita é a minha primeira morada de silêncio

a segunda irrompe do corpo movendo-se por trás das palavras

extensas praias vazias onde o mar nunca chegou

deserto onde os dedos murmuram o último crime

escrever-te continuamente... areia e mais areia

construindo no sangue altíssimas paredes de nada


esta paixão pelos objectos que guardaste

esta pele-memória exalando não sei que desastre

a língua de limos


espalhávamos sementes de cicuta pelo nevoeiro dos sonhos

as manhãs chegavam como um gemido estelar

e eu perseguia teu rasto de esperma à beira-mar


outros corpos de salsugem atravessam o silêncio

desta morada erguida na precária saliva do crepúsculo

Al Berto

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