Annemarie sentou-se à minha mesa. Vi logo o tamanho da sua
solidão: tinha o tamanho do mundo. Ela era a criatura mais só do mundo. E a sua
história apareceu - simples, tenebrosa - entre as nossas duas cervejas. Todas
as histórias pessoais são simples e tenebrosas. Não me comovi. Comovido já eu
estava: com as coisas, comigo, com a chuva sobre a cidade. Talvez houvesse uma
irónica alegoria em nós dois ali
sentados diante dos belos copos frios, compreendendo ambos tão facilmente o que nos acontecia e iria acontecer que não tínhamos pressa. Poderíamos morrer ali mesmo. Esperávamos.
sentados diante dos belos copos frios, compreendendo ambos tão facilmente o que nos acontecia e iria acontecer que não tínhamos pressa. Poderíamos morrer ali mesmo. Esperávamos.
Herberto Helder